Casulos de Seda
Tecidos de Seda
Hoje, estava eu na Internet, quando soube das filmagens de "Corações Sujos", baseado no livro de mesmo nome, de autoria de Fernando Morais. Aliás, recomendo a leitura deste livro, que conta uma passagem triste da história da imigração japonesa no Brasil: o extremismo da "Shindo Renmei", durante e após a 2ª Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo, veio à minha mente uma história da família Yoshinaga, que reporto a seguir.
Kyugo Yoshinaga e família já estavam estabelecidos na zona rural de Presidente Venceslau, quando ele teve a idéia de produzir seda no Brasil, algo inexistente no país na época. Ele, então, plantou amoreiras em seu sítio e construiu os galpões para o cultivo do bicho da seda. Meu pai, Hirose Yoshinaga, contava que todos os filhos o ajudavam nessa empreitada, ora levando as folhas de amoreira para a alimentação das lagartas, ora cuidando dos casulos de seda e por fim, retirando os fios de seda para posterior processamento.
Mas o que tem a ver o livro "Corações Sujos" com essa história ?
Naquela época, em plena 2ª Guerra Mundial, a seda tinha uso militar, e por isso alguns imigrantes japoneses mais nacionalistas e radicais criticavam os outros imigrantes que produziam seda e hortelã, pois eles estariam ajudando os aliados ocidentais na luta contra o Japão. A seda era utilizada na fabricação de paraquedas e a hortelã era utilizada para o resfriamento dos motores de veículos militares. Muitos imigrantes japoneses, que insistiam em produzir seda e hortelã foram chamados de traidores por esses outros imigrantes mais radicais.
Kyugo Yoshinaga também sofreu uma pressão muito grande para abandonar o cultivo de bichos da seda, mas não deu ouvidos aos radicais e continuou sua empreitada. Essa atitude mostra um pouco da personalidade de meu avô. Pouco lhe importava a política, ideologia, religião ou nacionalismo. Ele estava no Brasil para vencer e ficar rico, já tinha fincado raizes aqui e não pretendia mais voltar ao Japão.
Por sorte, os imigrantes japoneses mais radicais não estavam na região de Presidente Venceslau e sim, na região de Marília, onde a situação era mais crítica.
Ele resistiu às pressões e continuou produzindo os fios de seda e só abandonou, mais tarde, esse cultivo, pois não estava lhe dando o lucro esperado. Resolveu partir para outra atividade que lhe desse mais dinheiro.
Esse era meu avô. Não tinha o nacionalismo exacerbado de outros imigrantes japoneses, era apolítico e ateu convicto. Era perseverante e tinha uma sensibilidade extraordinária no cultivo de flores, e na sua velhice, transformou o quintal de sua casa, na cidade de São Paulo, num grande viveiro de orquídeas e "bonsais" que ele mesmo produzia.
A questão da Fé em sua vida merece um capítulo todo especial, pois no fim de sua vida terrena, já doente, ele percebeu o quanto esse sentimento lhe fez falta e o quanto sofreu por ser ateu e não acreditar numa Força Maior, ou seja Deus.
Pretendo, em outros textos, desenvolver mais este assunto: a relação entre a família Yoshinaga e a Fé. Vou tentar demonstrar que o resgate da Fé é a mola principal que move a vida de nossa família, e que desde meu avô Kyugo existe uma forte ligação entre o "Alto" e nós, descendentes dele.